Sem coelhos no futuro

19 05 2008

Richard Kelly apresenta seu caótico projeto após Donnie Darko

Southland Tales [2008]

Richard Kelly tornou-se uma promessa instantânea do cinema logo com seu filme de estréia, Donnie Darko. Dirigindo seu próprio roteiro, Kelly fundiu, em uma mesma narrativa, lapsos temporais, famílias desajustadas, crítica corrosiva aos pregadores de fórmulas mágicas de auto-ajuda e coelhos. Ou melhor, um coelho, o mais estranho que poderia aparecer: Frank. Com uma montagem instigante, a película ainda rendeu boas atuações de todo elenco, destacando-se Jake Gyllenhaal.

Original e esquizofrênico, firmou-se como uma produção cult gerou muitas expectativas sobre o próximo passo do diretor. E eis que finalmente chega ao Brasil o tão esperado “sucessor”. Southland Tales aparece 6 anos após muita especulação, alimentada pelas críticas que o filme recebeu nas primeiras exibições. Saiu direto em DVD por aqui, agora em maio. E, após sua projeção, confirma e desmente algumas coisas ditas sobre ele.

A primeira impressão que se tem é que talvez Richard Kelly tenha se tornado um megalomaníaco com o sucesso do seu primeiro filme. O filme funde todas as referências e estórias possíveis, inclusive as já exploradas em Donnie Darko. Partindo de um ataque terrorista nucelar nos EUA em 2005, a narrativa constrói uma breve linha do tempo mostrando os eventos que se desencadearam com o cataclismo até 2008, ano em que se desenvolve a trama. Os personagens aparecem jogados, deixando o espectador meio perdido. Aliás, a partir daí o filme manifesta o seu maior erro: peca pelo excesso. Seja de personagens, alguns dispensáveis; seja de informações, que inundam a tela sem aviso; ou de eventos secundários. Enfim, muito é apresentado mas pouco se aproveita.

Mas ao contrário das críticas afirmam, há um roteiro sim, apenas mal elaborado. No ano de 2008 que nos é apresentado, o governo americano controla toda a vida dos cidadãos, alegando requisitos de defesa, embora encontre a resistência de grupos sociais, notadamente os neomarxistas. Eles procuram sabotar as eleições para presidente que se aproximam, enquanto revelações sobre a energia alternativa, baseada no movimento das marés, adotada pelos Estados Unidos são feitas.

Entrelaçado a tais eventos, vemos Boxer Santoros (Dwayne ‘The Rock’ Johnson), astro do cinema que após permanecer dias desaparecido, é reencontrado no deserto e com amnésia, sendo abrigado por uma atriz pornô ambiciosa, Krista Now (Sarah Michelle Gellar). Após um roteiro de filme escrito por eles cair nas mãos da agência de vigilância do governo, Boxer passa a ser estranhamente encaminhado para a verdade. Em meio a tudo isso, um policial inseguro de suas intenções (Seann William Scott), reviravoltas confusas, constantes provocações à falsa moral americana, drogas sintéticas futuristas, Christopher Lambert em um papel nonsense e Justin Timberlake narrando os fatos, permeados com citações da Bíblia.

Afora as interpretações em boa parte caricatas, o grande destaque fica por conta da trilha sonora. Radiohead, Black Rebel Motorcycle Club e The Killers (esta com direito a encenação de Timberlake!) dão o tom antes do final, que é especialmente decepcionante. O motivo? Imagine suportar praticamente 2 horas e meia de um filme confuso para então deparar-se com uma enorme sensação de dejà vu. Robert Kelly simplesmente reaproveitou uma de suas melhores idéias no pior momento possível.

A expectativa agora se concentra no seu mais novo filme anunciado, The Box, terror estrelado por Cameron Diaz e James Marsden e baseado no conto “Button, Button”, de Richard Matheson. Esperemos uma boa surpresa dessa vez. O lançamento está previsto para este ano.

Trailer do filme

Por Rafael Galeno


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